quinta-feira

Todo escritor tem uma linha temática em sua literatura?

Dessa vez, uma dobradinha no projeto: eles me entrevistam.
por Cezar Fittipaldi

Consegue ter em mente uma linha temática em sua literatura? Acha que o artista deve transmitir suas crenças e valores, ou a arte independe de ideologias e deve ser apenas entretenimento?


Fatalmente meus textos recaem sobre o sujeito. Talvez seja por isso que eu quis, antes de escrever contos ou outros estilos, ser cronista. É o que não se vê, os conflitos que estão dentro que me interessam. Como cronista eu posso expor o meu dentro e o meu grito. Assim, dito em primeira pessoa. A partir do momento em que o cronista parte de sua própria realidade, sua concepção sobre o mundo, o que é real e o que é imaginário se confundem no texto. As crônicas literárias têm um estilo característico, diferente dos textos de opinião. E essa confusão entre os dois tem me incomodado ultimamente, principalmente com a internet, onde qualquer texto de blog vira crônica (ou artigo) quando, ao meu ver, são textos de opinião. Acredito que o escrever sempre levará ao outro algo daquele que escreve. Um algo que pode ter muitas interpretações das quais o leitor não distinguirá o que dali é realidade, fato ou ilusão. Digo isso tanto em relação às crônicas quanto em relação aos contos. Ainda não me aventurei no romance, mas creio que tenha semelhanças.

O artista tem que fazer o que ele acredita. Nem todo escritor é um artista e um grande artista pode trabalhar apenas para fins de entretenimento. Acho fundamental existirem livros para entreter, de fácil linguagem e acesso, com histórias feitas para todos, com qualquer história que desperte interesse em qualquer pessoa, uma única que seja. O que não dá é tornar a literatura inacessível e as pessoas continuarem acreditando que não é para elas, que literatura é aquele algo de linguagem culta preso aos acadêmicos e aos críticos literários. Por isso as propostas do Letra Corrida: Ateliê de Literatura e Criatividade têm como principal objetivo tornar a literatura possível para todos, por isso são atividades itinerantes sem distinção de público, idade ou nível de formação educacional.