quinta-feira

Edição Independente ou as Pequenas Editoras?


Enquanto muitos escritores têm um editor, eu tenho um gráfico. E há uma diferença nisso porque o cara é do tipo pró-ativo, não perde oportunidades de negócio e, voilá, passou alguns dias na Bienal do Livro aqui em São Paulo. Eu o acompanhei num desses dias e acabei conhecendo um mundo literário que eu desconhecia: parte dos bastidores das gráficas, das editoras, das distribuidoras e dos autores.

O passeio pelas distribuidoras foi inusitado. Algumas dão uma atenção especial para os novos autores, desses como eu, outras ignoram. E aí reside a diferença entre os grandes e os pequenos. Ou, aprova-se o poder do capital, claro! As contas não são difíceis. Em média uma distribuidora cobra 60% preço de capa de cada livro que ela vai colocar à venda. Desses, entre 40 e 50% vão para as livrarias (que, físicas ou virtuais, também cobram um jabá extra para colocar o livro na vitrine, de fácil acesso aos visitantes; ou então, esse valor, caso você não seja um best seller é apenas para a estante mesmo). DETALHE: sendo grande ou pequeno, o negócio tem que ser feito através de CNPJ e nota comercial (bem diferente da nota de serviços que eu vou ter com o Letra Corrida : Ateliê de Literatura e Criatividade). Coisas do mercado.

Mas então, lá pelas tantas, e tantas horas de Bienal ao lado de um gráfico fazendo seus próprios negócios, perguntas, dúvidas, anseios, conversas e coisa e tal. Quanto custa um estande na Bienal? 600 reais vai só para o chão e é o preço do metro quadrado. O mínimo permitido são de 24 (se não me engano), o que dá 14.400 reais. A Bienal oferece um estande básico, com armação básica, cujo serviço é 150 reais o metro quadrado (não sei se inclui o aluguel da estrutura). Ok, conta simples: 3.600 mais 14.400 resulta em basicamente 18.000 reais. E aquela ideia de ter um estande pro Letra Corrida daqui dois anos, vai indo água abaixo. Porque ainda tem toda a decoração, o material de divulgação, o material de exposição e coisa e tal! Blá! Por baixo, assim, baixinho, bem se vai uns 25.000 reais para ter o mínimo do mínimo numa Bienal. E não esqueça: nem estou dizendo ainda dos recursos humanos, afinal, o estande precisa contar com um pessoal para recepcionar o público e coisa e tal! Blá! A solução, pra daqui dois anos, seria juntar uns 150 autores independentes e dividir o espaço. 200 reais pra cada um. É. Pois é! Com uma boa logística, até que seria bem interessante. Quem topa?

Ainda nessa contagem do mercado editorial, e eu sou capitalista sim, analiso custo, benefício, tento identificar a margem de lucro e o preço real da coisa toda só pra evitar abusos, o que nem sempre consigo, não é difícil encontrar pelo mundo editorial a discussão das pequenas editoras, das pseudo editoras e das grandes editoras. Observe:

“Um autor não deve pagar para ser publicado. Um autor não deve aceitar jamais comparticipar custos de publicação com a editora. Um autor deve exigir pagamento pelos direitos de autor e esse pagamento nunca deve vir em forma de descontos ou promessas ou festas de lançamento. Um autor nunca deve pagar por exemplares de uma obra sua se não tiver recebido um livro sequer. E estas coisas envolvem sempre uma coisa chamada contratos. Exijam sempre um contrato e depois leiam as entrelinhas todas.” (Safaa Dib, editora)


Desde que li essa frase, muitas questões adentraram meus pensamentos. Afinal, qual é a função de um editora? Por que eu deveria pagar para ter meu livro publicado por uma delas? E por que é tão difícil assim o acesso para as grandes editoras? O mercado certamente me daria boa parte dessas respostas, mas, vamos aos acontecimentos na própria Bienal.

O gráfico, que não é só meu gráfico, mas de muitas outras pessoas, e editoras, e coisa e tal, me apresentou algumas delas. Gente bacana, por certo. A minha divergência está no capital e no idealismo da coisa mesmo. Uma das conversas deu-se mais ou menos assim:

[Cena] Diálogo entre eu e uma moça de uma dessas editoras que a gente paga para publicar. E, diga-se em passagem, gasta-se geralmente o dobro para publicar numa dessas editoras do que fazer tudo sozinho em uma gráfica especializada. Digo no taco a taco de achar um capista, e pagá-lo, achar alguém para diagramar o livro, e pagar esse alguém (a profissional que meu gráfico indicou cobra cerca de 1.000 reais os dois trabalhos, e claro que vai depender do número de páginas). Pagar ISBN, código de barras, ficha catalográfica, cadastro de autor-editor (as editoras não gastam com isso, e o autor-editor paga apenas uma vez essa taxa), direitos autorais, impressão e distribuição (hein?... alôoo, pequenas editoras... distribuição é importante!!!).

Se em média gasta-se 50% a mais contratando um serviço especializado, e a dificuldade é mesmo achar um bom capista e um bom diagramador (já que as gráficas geralmente oferecem orçamentos pela internet e os dados burocráticos são todos feitos por correios ou através da própria internet), então, o que justificaria esses 50% a mais? Distribuição. Claro! Vamos ao papo:

- tá, me dá uma razão para eu gastar 5mil e publicar com vocês...
- seu livro vai fazer parte de um projeto editorial.
- meu livro já tem um projeto editorial, capista e diagramador.
- ah, entendi, seu livro está pronto, mas mesmo assim, precisamos fazer alterações e padronizar seu livro de acordo com nossa proposta editoral.
- (opa, perdi a individualidade, coisas institucionais). Ok. Mas eu digo de alcance. Quero saber a vantagem de publicar um livro com vocês em termos de alcance.
- bom, nós não garantimos a venda do seu livro, isso você tem que ver com seu próprio livreiro! Nós deixamos à venda no nosso site e no site da Livraria Cultura (aqui paga-se um extra, óbvio).
- (eita, mais um custo, livreiro, sinônimo para distribuidor? Talvez. E se está à venda, pressupõe um contrato de direitos de autor e, da venda desses livros, 10% é pro autor, 40 a 50% pra livraria, o que sobra entre 30 e 40% para o próprio editor que, até aqui, não gastou um centavo). Não vejo grande vantagem de eu não fazer uma publicação independente, se eu tenho capista, diagramador e gráfico.
-[uma voz de homem que veio de fora] Nada garante que você venda seus próprios livros.
- eu vou gastar o dobro com vocês, e nada me garante que vocês vendam o meu livro. Eu, a depender de mim, vou me esforçar mais do que vocês, que fazem negócios (às custas do autor, claro, mas suprimi essa parte).
- e você acha que é fácil? Eu estou no mercado à 7 anos e tenho 50 títulos.
- (ora pois, se hoje ele tem 50, ele começou com 1, a conta é simples, por que eu não posso?) Aposto que você começou sua editora porque você achou difícil publicar com grandes editoras e caro publicar com as pequenas (é óbvio que aí está um negócio em potencial).
- [silêncio]
- eu só quero saber um bom motivo para publicar com vocês, que faça com que eu gaste o dobro (afinal, existem custos que valem à pena, e se fosse eu representando o Letra Corrida, daria mil razões e outros mil benefícios, podem crer). Eu posso contratar uma distribuidora.
- e você sabe quanto cobra uma distribuidora?
- (será que esse foi o sinal de que, de fato, eles não trabalham com uma?). Sei sim, cerca de 60%.
- e você não acha caro?
- acho que eu teria 40% de retorno, em vez dos 10% relativo aos direitos autorais (falo de uma produção independente como esta que estou me aventurando).
- [o homem se aborreceu!] Bom, boa sorte com seu livro!
- Obrigada!


É claro que cada um tem que avaliar e saber o que é melhor para si. Com uma gráfica, cuidando de todo o processo que, sim, é trabalhoso e moroso, gasto cerca de 50% a menos e recupero o investimento, contando os gastos com o lançamento, vendendo entre 200 e 250 livros, da minha tiragem de 500. Parece muito, mas acho ser bem possível. Bem diferente de eu vender através de uma editora a me pagar 10%. É preciso vender bem mais que 500 livros para qualquer retorno do dinheiro. Nenhum autor fica rico no Brasil, mas tem muitas editoras que tiram o pé da lama, com certeza!

Também é claro que depende dos objetivos de cada um. Por certo que há uma vantagem em se fazer tudo por uma editora. Ela vai fazer praticamente todo o processo de edição sozinha e coisa e tal. Mas se a questão é ter um livro publicado, não vejo vantagens. No meu caso, também não vejo vantagem em associar meu nome às pequenas editoras. Mas é preciso começar de algum lugar, disso eu não tenho dúvidas. E, se todos os cálculos e metas que propus ao meu projeto derem certo, eu tenho um saldo de 250 livros que ainda posso mandar para alguma distribuidora. É que, a partir daí, qualquer venda passa a ser lucro, mesmo que mínimo.

E você, qual o seu caminho?