quinta-feira

Dos valores dos prêmios literários


Ano passado, se não me engano com a data, o Prémio Leya, criado em 2008 e com valor de 100 mil euros, não conferiu nenhum ganhador sob a alegação de que os textos apresentados careciam de qualidade. Entre Brasil, Portugal e demais países da Língua Portuguesa podemos pensar que a coisa está preta. Não é por acaso que muitos prêmios e concursos vivem na prorrogação.

Eu, por aqui, ando no perrengue Bolsa Funarte de Criação Literária, cujo relatório final deve ser entregue até o fim do mês. Uma novidade na minha experiência literária é esse pulo da crônica para o conto. Quando eu resolvi jogar as coisas para o alto e ser escritora, havia uma mensagem bem clara na minha cabeça: ser cronista! E, até hoje, não consegui um espaço no tablóide para tal, digo de uma forma remunerada (sei que minhas psrticipações no Jornalirismo andam bem aquém, falta de estímulo, talvez, ou muitas outras coisas para serem escritas no momento: o livro de contos para a funarte e o texto de defesa do doutorado). Não reclamo, como dizem, os caminhos precisam ser trilhados. De outro lado, conto um bom momento de meu primeiro livro, o Língua Crônica, que foi o Prêmio da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro: mulheres cronistas. Não me rendeu din-din, mas me levou até a Academia Brasileira de Letras.

Agora há uma estratégia neste caminho "sim, quero ser escritora" que é este desafio que me propuz em trabalhar esta linguagem próxima à crônica e com muitas particularidades que distinguem uma da outra. Encontro dificuldades por conta desta altercação linguística, daquilo que acreditava dominar e, agora, daquilo que sequer dou conta, o conto. Sei que, dos 15 textos que propuz no projeto que escrevi para o edital da Funarte - três ainda estão por escrever a primeira linha -, vou de encontro com essa briga contra o tempo e com essa busca pela linguagem.

Confesso: escrever com prazo requer disciplina e esforço para fazer o vazio das ideias virarem marca, uma expressão a ser lida, um algo que alguém deseja e faça da leitura um prazer. É, por certo, uma excelente experiência, um treinamento para as crônicas mensais, semanais, diárias que estão por vir, será?, sempre essa pulga das dúvidas. Incerteza que cerca qualquer mudança, qualquer risco e voilá, qualquer julgamento literário.

Mas então a estratégia, falando em julgamentos, é terminar o livro da Funarte e enviá-lo, na sequência para o Prêmio SESC de Literatura (autores estreantes na categoria conto). E sempre volta à cabeça a lembrança de que ano passado o Prémio Leya não conferiu honrarias. Falta de qualidade. Me debruço sobre o computador dia e noite com a exigência de apresentar meu melhor e descubro, em cada momento desses, que ainda me falta densidade literária. Leio outros autores, outros contistas, do passado e da atualidade e estabeleço entre eles meus próprios pontos de convergência e meus própios pontos de divergência. E todas essas vezes agradeço à Funarte, cujo prêmio em dinheiro me permite a tal busca fazendo desta bolsa algo fundamental na minha formação como escritora. Seria bom se pudéssemos contar com mais dessas iniciativas e que atinjam mais pessoas país adentro. Repito, dividir o Prêmio São Paulo de Literatura, autores estreantes, para, ao invés de premiar um único escritor com 200 mil reais, atingir pelo menos três. Seria legal.

Voltando ao Prêmio SESC de Literatura e, lembrando dos acontecimentos com o Prémio Leya, além de outros fatores, aquele frio na espinha me invade. Sabe da enorme barreira que aí se instala na virada de mesa: será que dá? É isso mesmo? Fiz a escolha certa? E parece que nunca dará, sorte que essa frase chega sempre acompanhada daquela luz no fim do túnel. Estão vendo ela ali? Pois eu a vejo. Atualmente ela tem outro nome: Prêmio Jabuti e a esperança de o Língua Crônica ficar entre os 10 finalistas. E, se não for dessa vez, será na próxima. Ou na outra, na outra, na outra. Enquanto isso, fico cá quebrando a cabeça para fazer meu melhor nesse livro de contos que venho construindo dia após dia. Sabendo que a coisa por aqui também está preta. Mas nem tanto!