Sobre editais literários, prêmios e concursos sempre me vem o pensamento de que, ao me decidir participar de algum deles, automaticamente aceito as regras do jogo.
Meu livro de contos, o mesmo que recebeu a bolsa funarte em 2010, talvez não receberia essa em 2012. Tem novas regras. Ou talvez não tenha ficado claro, no projeto que escrevi, a carga de peso que os contos teriam. Aliás, o paradoxo é sempre evidente no meio literário onde a avaliação é sempre subjetiva. Inscrevi o livro de contos que resultou da Bolsa Funarte de Criação Literária no Prêmio Sesc e sequer chegou perto. Na outra ponta, o mesmo projeto não conseguiu o Proac. Também as editoras têm suas predileções editoriais para um ou outro tema, uma ou outra forma de tratar a literatura. Gênero, estilo, tema, quem você conhece.
Não vejo essa subjetividade como algo assim tão tenebroso. Mas vejo facilmente a regra do jogo. Existiu um motivo que, para um determinado edital, tornou um ponto importante, essencial para atingir determinadas metas e/ou interesses. E escrever um projeto literário com o fim de receber uma bolsa, prêmio ou concurso não tem jeito, é adequa-lo ao edital, ao prêmio, ao concurso. E isso é perfeitamente possível. Como é possível escrever um projeto de mestrado, e cumpri-lo, um de doutorado, e cumpri-lo um plano de negócios, e cumpri-lo, um plano para daqui 10 anos, um relatório de metas.
Não adianta querer escrever um projeto literário que fala sobre borboletas azuis para concorrer a uma bolsa que diz que não seria legal escrever sobre borboletas azuis. É dar murro em ponta de faca. Nada contra quem quer ser transgressor, mas não me parece inteligente.
Nada adianta escrever um projeto de mestrado ou doutorado com um foco numa instituição que não tem a linha de pesquisa pretendida pelo pesquisador em questão. Em outras palavras, apresentar um projeto sobre borboletas azuis se o orientador só estuda vulcões vermelhos não me parece inteligente.
O fato é que a literatura nunca será só inspiração. Talvez a maior parte dela seja suor mesmo. Talvez trabalhar a criatividade seja suor, sentar na frente do computador e demorar 4 horas para escrever uma única frase. Por isso que não adianta tentar se inscrever em algo que você não acredita. A literatura é uma instituição. E tem suas regras.
Mas há uma possibilidade evidente em todo processo subjetivo como o de escrever. E ler. E esse esforço ganhará seu espaço transgressor e de visibilidade. Se distinguirá independente dos editais, dos prêmios e concursos literários; das regras que proíbem borboletas azuis.
É apenas preciso saber jogar.